segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

açores o falhanço

O grande falhanço!

A par da saúde, o sector do turismo é um dos maiores falhanços da nossa Autonomia.
O sector que iria ser a alternativa (ou o complemento) da agro-pecuária, na diversificação da riqueza açoriana, tornou-se num autêntico pesadelo para quem nele apostou legitimamente.
Podem-se atribuir as mais variadas causas a este insucesso, mas há uma que é inquestionável: a falta de uma orientação estratégica consistente e altamente profissional.
Acreditou-se que a atribuição de muitos milhões, a fundo perdido, era razão suficiente para o sector fazer caminho por si próprio.
Estimularam-se os investidores e criaram-se expectativas demasiado altas, sem se curar de saber as consequência e as alternativas a eventuais insucessos.
Os últimos seis anos foram mesmo de uma grande desorientação, sem um fio condutor que nos trouxesse a valia económica tão prometida em estudos, seminários, conferências, promoções, planos e outros documentos mirabolantes.
Era tudo facilidades.
Em meados de 2008 foi criado aquele que era considerado o documento mais ambicioso alguma vez para o sector, o POTRAA (Plano de Ordenamento Turístico da Região Autónoma dos Açores), tão optimista, tão optimista, que poderia ser assinado pelo ministro Vítor Gaspar, porque não acertava com nenhuma previsão.
O Plano previa – imagine-se – taxas de crescimento anuais do turismo de 7%, quando já naquele ano o turismo descia 5% e, em 2009, teve um trambolhão de 11%.
Foi o documento por água abaixo, apesar de ainda vigorar por aí, assim como um outro, denominado “Plano de Marketing Estratégico”, que promovia a “Marca Açores”, de que nunca mais se ouviu falar, e ainda o célebre “Plano de Promoção Turística”, de 2010, que previa mais de 30 milhões de euros para a promoção.
No mesmo ano, uma resolução do governo concedia 10 milhões de euros às associações sem fins lucrativos na comparticipação de projectos de interesse público na área do turismo.
Não faltavam milhões.
Até o portal de turismo, a página oficial do sector na internet, foi adjudicado a duas empresas diferentes em 2010 e 2011, custando à região mais de 320 mil euros.
O primeiro tinha erros de informação de bradar aos céus e o segundo parece que não teve melhor sucesso.
Ambos estavam enquadrados numa candidatura a fundos comunitários de quase 1 milhão de euros, destinados à promoção dos Açores.
Entretanto, mais estudos encomendados.
O Observatório de Turismo dizia, com base num destes estudos, que a nossa salvação estava no segmento do Turismo de Saúde e Bem-Estar.
Mais tarde apontava para o Turismo Religioso.
Depois fez um outro, onde se concluía que o golfe não se encontrava entre as preferências dos turistas.
Conclusão para os três: no Turismo de Saúde, se os turistas idosos souberem do descalabro que vai pelos nossos hospitais, nunca mais põem os pés cá; no Religioso, tivemos há três anos a presidir às Festas do Senhor Santo Cristo o Cardeal de Boston, que regressa de novo este ano, e o melhor atractivo que demos aos turistas americanos foi aumentá-los as passagens; no golfe, os campos de S. Miguel foram “regionalizados”.
Ou seja, tudo ao contrário.
Outra história semelhante: há uns anos atrás trouxeram a um seminário sobre turismo, na Universidade dos Açores, um “guru” americano, Jafar Jafari, professor da Universidade de Wisconsin e consultor da Organização Mundial de Turismo.
Quando lhe perguntaram o que fazer para atrairmos o turista americano, respondeu: “A primeira grande ajuda é conseguir chegar aos principais operadores turísticos americanos. Mas, desde logo, uma das grandes lacunas dos Açores em relação aos EUA, é a dos voos directos, que têm de ser aumentados, pois esta será também uma grande ajuda”.
O que fez a região?
Promoveu os Açores nos táxis de Boston, retirou o voo directo do aeroporto de Providence e aumentou as tarifas!
Depois, a SATA veio dizer que o mercado da América do Norte é “estratégico”.
Em quê? Só se for na exploração dos emigrantes açorianos.
Nesta questão dos mercados, a desorientação é ainda mais incompreensível.
A operação de Munique foi um desastre deficitário, a Escandinávia é cada vez mais uma miragem, anunciou-se em 2011 uma operação turística dirigida ao mercado belga para o verão de 2012, que deveria proporcionar 28 mil dormidas, lançou-se um pacote turístico em 2011 “Tudo incluído 5 dias”, agora há outro para visitar quase todas as ilhas em menos de uma semana...
O fomento da hotelaria foi outra desorientação.
Houve hotéis que, espantosamente, na cerimónia de inauguração, já anunciavam o seu encerramento temporário para 15 dias depois.
Hoje, é o que se vê: hotéis que estão a encerrar nos Açores e, no Continente, 27 vão abrir este ano (duas inaugurações por mês).
O “Hotel voo incluido” serviu para dividir agentes de viagens, hoteleiros e câmaras de comércio.
Em todo este decurso, o turismo nacional e mundial continuou sempre a subir (aumento de 4% no ano passado e previsão de 3 a 4% este ano).
E nós, sempre a descer.
Já se experimentou de tudo, até nomear Pedro Pauleta “Embaixador do Turismo dos Açores”.
Causas para a decadência?
Já ouvimos de tudo no discurso oficial: uma vez é porque não temos “notoriedade suficiente”, outras porque há uma “acentuação da sazonalidade” e a última é por causa da “crise no Continente”.
Já não sei o que diga.
Citando o meu amigo Gilberto Vieira, da Quinta do Martelo, “algo vai muito mal no reino dos abexins”...

Pico da Pedra, Fevereiro 2012
Osvaldo Cabral

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