quinta-feira, 20 de setembro de 2012

passou o tempo dos partidos


REVISTA ÁFRICA21

"Passou o tempo dos partidos?", por Pepetela

"Os partidos são cada vez mais aparelhos desumanos, constituídos de instrumentos e peças, sem sangue nem nervo".
Brasília - Um humorista italiano, Beppe Grillo, ganhou algumas câmaras municipais em Itália. Já antes o excêntrico Berlusconi fartou-se de reinar em Roma, criando e desfazendo partidos da noite para o dia. Na Grécia, um antissistema de esquerda ameaçou ganhar as eleições, pondo de parampas toda a União Europeia.
Já há tempos um palhaço foi eleito para deputado no Brasil (nunca mais ouvi falar dele, talvez por ter deixado de usar o nariz vermelho). Na circunspecta Alemanha, o Partido dos Piratas vai crescendo e pode mudar os equilíbrios do poder (eles só querem ter a liberdade de copiar e fazerem downloads na Internet sem serem chateados). Alguns exemplos de como a política já não é a secura a que estávamos habituados e enveredou pela imaginação libertária. Ao menos, uma nota de pimenta na rigidez do fato e gravata.
Não escondo a admiração que nutro pelos que rompem os sistemas e têm a coragem de parecer extravagantes para, pelo menos, animarem a maralha. A vida seria uma monotonia intragável sem eles. Agora, por culpa dos mesmos de sempre, essa tendência vem ganhando a política. E me divirto a ver os aparelhísticos (isto é, aqueles que vivem dos aparelhos partidários, género um jotinha que não estuda nada e vai fazendo a sua vidinha na Juventude do Partido, esperando ter idade para ser promovido para o Partido, aos pulos e gritos de apoio ao chefe nas manifestações de boné na cabeça, de preferência com uma estrela, até conseguir uma ascensão no próprio Partido e acabando por morrer, sem dentes, mas membro do Comité Central, uma vida recheada de vitórias e felicidade pelo dever cumprido!).
Os partidos são cada vez mais aparelhos desumanos, constituídos de instrumentos e peças, sem sangue nem nervo. Por isso, quando se vislumbra no horizonte qualquer coisa como uma máquina de reciclar ou compactar os instrumentos, eu fico com esperanças, um partido a menos.
Leia versão integral na edição impressa da revista África21 (N.º 67, setembro 2012). Para assinar a revista contacte: jbelisario.movimento@gmail.com

Sem comentários:

Enviar um comentário