segunda-feira, 23 de julho de 2012

AFINIDADES CULTURAIS E ECONOMIA


Afinidade cultural e empresas brasileiras em Portugal: os ensinamentos do sucesso

As multinacionais brasileiras apontam que a diversidade cultural é um elemento criador poderoso para a sua cadeia de negócios. Não é por acaso que uma experiência internacional é uma mais valia.
Alguns factores de sucesso do investimento das multinacionais brasileiras em Portugal podem trazer ensinamentos para ultrapassar os actuais desafios da economia mundial de forma mais rápida e mais tranquila. Em meados de junho apresentámos um trabalho intitulado "Os factores de sucesso dos investimentos das empresas brasileiras em Portugal", com os economistas Gustavo Franco e Joaquim Ramos Silva, no Congresso da Associação Portuguesa de Desenvolvimento Regional (APDR), evento que foi um sucesso, como de costume. Abordaremos, então, alguns destes factores relacionando-os ao actual contexto mundial.
O primeiro factor é em relação ao trabalho. As multinacionais brasileiras apontam que a diversidade cultural é um elemento criador poderoso para a sua cadeia de negócios. Não é por acaso que uma experiência internacional é uma mais valia, por todo um conjunto de conhecimento e experiências de benefícios mútuos. Aqui, é bem verdade que o ideal poderia ser o cidadão trabalhar no seu país natal.
Entretanto, a nível individual, quão enriquecedora, tanto pessoal como profissionalmente, pode ser uma experiência no exterior, em outro país, outra cultura. Uma possível volta, provavelmente mais preparado, não somente na vertente pessoal, mas também auxilar o seu país natal a desenvencilhar-se de antigos hábitos que o detêm há décadas e há séculos, somando-se de forma genuína às suas populações.
O nível de literacia aumentou consideravelmente em alguns países. Agora está a perceber-se concretamente que esta, sem os valores de respeito entre humanos e para com a natureza, é neutra, podendo gerar a abundância ou não.
Imaginemos quando todos os recursos provenientes dos impostos, por exemplo, forem melhor aproveitados. No mundo globalizado e interdependente, o trabalho digno, a troca de experiências interculturais são partes naturais e enriquecedoras do processo do crescimento e da aprendizagem. Quando esta questão for aprofundada de forma correta, as relações econômicas entre países equilibram-se, pois, no momento em que vemos troca como algo a ser benéfico para ambas as partes, isto é levado em consideração, tanto a nível pessoal, como de empresas e de países.
O nacionalismo e o patriotismo são sentimentos sublimes, preservam a segurança nacional, mas é preciso ter muito cuidado para evitar o egoísmo e o orgulho extremos, pontes muitas vezes para decisões, seja qual for o regime político, que nada têm a ver com o bem estar da população, e sim de grupos de interesse que aproveitam-se da boa fé.
Outro factor essencial de sucesso que as empresas brasileiras que investem em Portugal colocam é o investimento em investigação e desenvolvimento. Metade investem em I&D, como forma de inovar produtos e serviços para satisfazer melhor o seu consumidor. E a afinidade cultural está a facilitar o intercâmbio de conhecimentos, de tecnologia no caso em estudo. Ao nível agregado, percebemos aqui a importância da busca da verdade, de seguir a consciência.
A falta de seriedade e má conduta, na actualidade, seja na vida pública ou não, estão muitas vezes ligadas em seguirmos padrões e hábitos inadequados de determinado grupo que integramos, social, profissional ou familiar, e esquecermos que na base está a nossa consciência, o agir pela verdade. E os hábitos também explicam os interesses de grupos e sociedades que não pensam na organização social como um todo, e sim nos seus próprios, muitas vezes tão arraigados cuja cumplicidade os fazem agir de forma extremamente selvagem e egoísta. E o desafio para melhorar a organização social na actualidade é exactamente agirmos fazendo o que é certo, independentemente do grupo ou cultura que estivermos ligados, ouvir a voz do coração, da intuição, fonte inesgotável da criação, como coloquei no artigo "Albert Einstein e os investimentos das empresas brasileiras em Portugal", por exemplo.
Então, não é por acaso que estamos a vivenciar os mais diversos vícios e desvirtuamentos, sejam empresariais, sejam públicos, seja a nível local, seja a nível global: basta percebermos a forma que muitas vezes nos comportámos, e olharmo-nos ainda mais como seres humanos vindos da mesma fonte, sem as formas de divisão criadas desde séculos, e fazer as transformações pessoais e sociais. De acordo com Schopenhauer: "Podemos dividir os pensadores em dois grupos: os que pensam por si mesmo e os que pensam através dos outros. Estes últimos são a regra, e os primeiros, a exceção. Os primeiros são pensadores originais num sentido duplo, e egoístas no sentido mais nobre da palavra".
Neste quadro encaixamos o papel fundamental da mulher, se buscar agir com base nas suas virtudes mais latentes em relação ao homem, e não como mulher-homem, neste caso a não mudar muito a organização social. Muito já foi conseguido e exemplificado pelo sexo feminino, e o desafio é dar o exemplo em virtudes que são mais difíceis para o homem, e não igualá-lo em demonstrações muitas vezes criticadas por elas, as quais vão de encontro a sua natureza geradora e criadora da vida. Reclamam dos homens, a dizerem que são mais volúveis, por exemplo. Entretanto, esta acção pode ser um reflexo do próprio comportamento da mulher. Na actualidade, a mulher já possui representatividade e abertura para auxiliar de forma decisiva na construção da sociedade que imaginamos: do amor, do perdão, da bênção, da compaixão, do equilíbrio, da tolerância, da compreensão, da igualdade, da liberdade, enfim, do serviço.
Aprendemos uns com os outros. No momento em que aumentamos a consciência, e a cultura deve servir para tal, reduz-se a dor, o erro, e a organização social modifica-se consideravelmente. E as transformações socio-econômicas actuais indicam que este movimento está a acontecer. Para a cura, primeiro é preciso detectar as causas, e agir.
* Cristiano Cechella é economista. Mestre em Economia Empresarial pela Universidade Cândido Mendes, do Rio de Janeiro, e Doutor em Economia pelo Instituto Superior de Economia e Gestão, de Lisboa, assina uma série de artigos especiais para o Portugal Digital sobre o investimento brasileiro no mercado português. E-mail: ccechella2004@yahoo.it.

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