domingo, 24 de junho de 2012

corrupção em moçambique? onde? joão craveirinha

[Beira-Moçambique]
O Autarca – Jornal Independente, Quarta-feira – 20/06/12, Edição nº 2367 – Página 3/5.

Coluna MANENO por Johnny Diaz Mpfumo Kraveirinya
CORRUPÇÃO EM MOÇAMBIQUE? ONDE?
«Você sabe que na semana passada almocei com o vosso primeiro-ministro no Hotel Polana, em Maputo?!»
Exemplo comum de diálogo entre um empresário português dirigindo-se a um funcionário moçambicano ou moçambicana. Eventualmente pretendendo “pressionar” o funcionário moçambicano/a para prossecução de seus objetivos na obtenção rápida (de algo) passando à frente de todos. Infelizmente são factos observados da realidade anónima quotidiana.

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FOTOS: Emigrantes portugueses de mala às costas. (Foto data venia Lusitanos do Mundo) e à direita, “Oldemiro Balói com o homólogo português, Paulo Portas, numa cimeira em Lisboa em 2011.” Data venia jornal Público, Lisboa.

     «Já há em Moçambique 25 mil portugueses e estão a chegar mais 140 por semana. – revela consulesa-geral de Portugal em Maputo, Graça Gonçalves Pereira, à publicação “Dinheiro Vivo”  A descoberta de gás em Moçambique, segundo a publicação lusa, é suficiente para sustentar Portugal 22 anos, e isso está a provocar não só uma corrida de investidores, como uma imigração em massa de cidadãos portugueses em Moçambique. Maputo (Canalmoz).» 09 abril 2012.

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Grosso modo tem-se falado de corrupção sem o devido contexto. Esquece-se de que onde há corruptos há antes, corruptores. Quando há promiscuidade entre dirigentes políticos e o empresariado – homens e mulheres de negócios, inevitavelmente surgirá o fenómeno da “corrupção ilegal” e da não referida “alta corrupção legal” - ambas ativas a nível da globalização e obviamente em Moçambique.      
Ora, a este fenómeno global da corrupção (histórico e renovado) poderíamos dividir ou classificar em duas formas de modus operandi (do latim, modo de operação): 
     1.- A “corrupção ilegal” [a mais mencionada] por ter maior visibilidade e se situar à margem das legislações vigentes, em que o suborno ou propina influenciam e facilitam a aquisição de documentos legais ou fraudulentos, assim como a assinatura de contratos vantajosos entre entidades públicas e privadas. No entanto inserido num cômputo geral
O Autarca – Jornal Independente, Quarta-feira – 20/06/12, Edição nº 2367 – Página 3/5.
de “escalão B.” Esta “corrupção ilegal” é a ponta do iceberg mais canhestra e boçal, tipo: “quanto é que você quer?” O corruptor age sem vergonha tornando-se “patrão” ou muLungo / meZungo (senhor) do corrupto seja do simples funcionário ao diretor, secretário de estado, ministro ou primeiro-ministro numa ascensão piramidal ao presidente.
    No entanto, se por qualquer motivo de um rasgo de rebate de consciência política ou de “dignidade humana” do dirigente máximo ao contrariar o processo corruptor “sentirá” o perigo de um “golpe-de-estado.” Golpe político ou militar favorecido e patrocinado pelo empresariado estrangeiro “da pesada” apoiado pelas instituições de seu país ou em coligação com a de outros países. A intervenção militar externa poderá ser opção. Esta tem sido uma prática, de novo ressurgida. Por outro lado temos outra forma de corrupção mais sofisticada de “escalão A:”
     2.-A “alta corrupção legal,” mais disfarçada (fortalecida) através de uma visibilidade promíscua entre o empresariado e os dirigentes políticos.
     Aliás este modelo é norte-americano. Os megajantares de angariação de fundos para campanhas eleitorais ou de outro tipo (lobbies) irão favorecer a médio prazo o “investimento” feito com esses donativos com a aprovação futura de legislações que beneficiem os seus negócios. Noutras latitudes, esses empresários (maioritariamente masculinos, eventualmente) irão sem dúvida “cobrar” de múltiplas formas apoios dispensados a campanhas eleitorais através da aprovação legal e instalação de seus projetos industriais e objetivos económico-financeiros em países terceiros, mesmo que “ferindo” certas legislações de impacto ambiental e ético em seus países de origem.
     Essa nova forma descarada de “alta corrupção legal” ou legalizada tem tido apoio “inconsciente” até de muitos edis (vereadores, autarcas), outros dirigentes máximos camarários mesmo da oposição em Moçambique (e não só). Todos preocupados com a  “prestação de serviço” em “benefício do povo.” Infere-se uma continuidade dos “seus” poderes políticos constitucionais através do prestígio da apresentação de “projetos de desenvolvimento económico e social” contra a pobreza total. Situação paradigmática extensiva a ministros e ao presidente numa ótica de cooperação internacional de parcerias.


O Autarca – Jornal Independente, Quarta-feira – 20/06/12, Edição nº 2367 – Página 3/5.
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Imagem: MOBUTU ROI DU ZAIRE: Capa de livro do entronado Mobutu Sese Seko Ngbendu Waza Banga, (antes Joseph Désiré Mobutu), o presidente africano que impressionou “positivamente”  Samora Machel em Setembro 1974 na 1ª visita ao Zaire (Congo-Kinshasa).
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No entanto, a tónica comum “ideológica” é a herança do “mobutismo” de criação de riqueza material pessoal, para a eventualidade de um dia virem a perder o status político e diplomático – nesse âmbito há que manter o poder financeiro e fundamental, por conseguinte, o lobby (gestão de influências). O problema é que não aprenderam com a história do “pai africano” desse processo, (Joseph) Mobutu Sesse Seko caído em desgraça política, sem terra até para ser sepultado, e com a enorme fortuna congelada pelos Bancos do mundo. Sic Transit Gloria Mundi é um aforismo do Latim que expressa o vazio do poder e fátua fama porque "assim passa a glória do mundo.”
  FOTOS: Mobutu antes da queda. Anteriormente apoiado
por poderosos presidentes norte-americanos: J. Kennedy; R. Nixon; R. Reagan e G. Bush (pai).

     CORRUPÇÃO no fundo é essa ambição exagerada de conforto e de bem-estar que impulsiona o mundo e forja egoísmos. [JDMK]
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ANEXO AFIM AO TEMA: - Em termos globais temos algumas situações paradigmáticas ainda que ficcionadas em cinema: “Big oil means big money. Very big money. And that fact unleashes corruption that stretches from Houston to Washington to the Mideast and ensnares industrialists, princes, spies, politicos, oilfield laborers and terrorists in a deadly, deceptive web of move and countermove. “ (…)
     «O negócio do petróleo movimenta muito, muito dinheiro. E o dinheiro move a corrupção, dos escritórios de Houston aos salões de Washington e aos palácios do Médio Oriente – arrastando homens de negócios, príncipes, espiões, políticos, simples trabalhadores e terroristas numa complexa teia de decepção e crime.» (in Richard Corliss, revista Time, sobre o Filme SYRIANA com George Clooney, óscar da academia 2005 de melhor Actor secundário).



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Data Venia a Fotos e Fontes.
Foto emigrantes portugueses: http://www.lusitanosdomundo.org/
Ministros dos Negócios Estrangeiros de Mz e Pt.: http://m.publico.pt/Detail/1549699
Time Magazine U.S. Movies: A Thriller That Thinks - By RICHARD CORLISS Monday, Nov. 21, 2005
Description: http://t2.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcRny_eLdMFtpGrZ2vqstrsb6wC7G7szU3GPqpa1mSetqyld8D2V An African Big Man In Trouble. Dec 14, 1997 7:00 PM EST: http://www.thedailybeast.com/newsweek/1997/12/14/an-african-big-man-in-trouble.html


Fotos Mobutu Créditos:


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O autor Johnny Diaz Mpfumo Kraveirinya - JDMK [aliás João Craveirinha - 1947] é formado em Ciências da Cultura e Comunicação pela Universidade de Lisboa (antiga Clássica). Área afim à Sociologia da Cultura. Em fase de defesa de tese de obtenção do grau de PhD (doutorado). É ainda pesquisador académico no estudo da Disseminação da Alimentação, dos Sons e Danças Tropicais tendo a Cultura Como Fator Económico de Desenvolvimento Humano. É autor literário em prosa e poesia (4 obras e 10 no prelo). Foi designer gráfico, e é o pintor-autor da maior pintura mural de África localizada na praça dos Heróis em Maputo: comprimento 110 m x 5 m altura – dos maiores murais de arte do mundo. JK viajou por 25 países de 1967 a 2009. Viveu em África, América do Sul (Brasil) e Europa. Fundou na década de 1990 uma Associação cívica-cultural AAMO - Associação Africana de Moçambique em Portugal e em Maputo uma ONGD - MISSO (Semente) apresentada em Bruxelas na Comissão Europeia-DGVIII. MISSO-SEMENTE de sede provisória em Maputo, a transferir para Quelimane ou Mocuba. Fatores de má vontade política dificultaram a prossecução dos seus objetivos. 


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