quinta-feira, 24 de maio de 2012

o dia de áfrica por mário soares

in diálogos lusófonos



25 de Maio: dia de África

Portugal tem uma enorme tradição africana. Praticamente única. Foi o primeiro Estado europeu a viajar e a conhecer África, como os seus dedos, tratando os africanos, quando lhes fez filhos, de igual para igual. Depois da II Guerra Mundial - e do movimento da descolonização - foi o último país europeu, devido à teimosia cega de Salazar, a abandonar o chamado império (onde o ditador nunca foi) ou, como no final lhes chamou, o Ultramar. Com efeito, o ditador que nos governou por 48 anos e o seu sucessor, Marcelo Caetano, foram os principais responsáveis por treze anos de "guerras coloniais" cruentas, que não tinham solução militar, como se provou, e a abandonar, quase sem resistência, o chamado Estado Português da Índia, quando teria sido possível uma solução negociada.

Deveu-se à "Revolução dos Cravos" - e portanto aos militares de Abril e, depois, aos do 25 de Novembro de 75 - a abertura de negociações conducentes à paz e ao reconhecimento do direito à autodeterminação, como a ONU proclamava. A descolonização impunha-se para se chegar, como rapidamente se conseguiu, à normalização democrática, pluralista e civilista de Portugal, à entrada, de pleno direito, de Portugal na então CEE, hoje União Europeia, e a um período de grande desenvolvimento e de bem-estar social que durou nos últimos vinte e tal anos.

Depois das independências criou-se a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) uma associação que não é só de língua - embora o seja - ou de negócios, como muitos pensam -, sobretudo em tempo de crise, que hoje vivemos, mas, essencialmente, de afeto, de solidariedade, de ligações das diferentes culturas, embora com raízes comuns, de liberdade religiosa, do conhecimento e do modo de ser e de estar.

A CPLP difere da Commonwealth como inicialmente alguns terão pensado, porque representa um modelo muito diferente. Na Com-monwealth, há um Estado mentor, o Reino Unido, que, por isso, nunca quis que a América do Norte lá entrasse, apesar de ser uma antiga colónia inglesa. Enquanto na CPLP o Brasil está - e gostamos muito que esteja - sempre presente, porque ao mesmo tempo foi uma colónia portuguesa e também a capital do extenso império português, enquanto D. João VI esteve no Brasil. Quando regressou a Lisboa, por imposição das Cortes, foi o seu filho D. Pedro IV português e I do Brasil, que declarou: "fico", e com esse grito proclamou a independência do Brasil, sem efusão de sangue.

As relações entre Portugal e Brasil nunca foram por isso conflituosas. Foram e são, em virtude do nosso passado comum, de grande fraternidade. Como as que temos hoje, felizmente, com Angola, Moçambique, São Tomé e Príncipe, Guiné- -Bissau, Cabo Verde - e também Timor -, porque todos nos batemos, no tempo do colonialismo, contra o mesmo inimigo comum: a ditadura de Salazar e de Caetano. Certamente por isso a amizade entre os Povos da CPLP é hoje tão fraterna, independentemente das diferenças políticas e económicas.



Adaptado de http://www.dn.pt/inicio/opiniao/interior.aspx?content_id=2535722&seccao=m%e1rio%20soares&tag=opini%e3o%20-%20em%20foco&page=-1
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