quinta-feira, 1 de março de 2012

TIAGO ANACLETO-MATIAS DEFENDE O AO1990

Caro Amigo Chrys,
 
É claro que é inacreditável e inaceitável, inconcebível e incompreensível – e todos os adjetivos que encontrarmos –, tal como impossível o que estão a fazer ou a querer fazer à nossa língua e sobretudo à Lusofonia no seu todo; e já lá vão mais de vinte anos!
 
Não me tenho pronunciado, porque o meu tempo escasseia já que ando exacerbado com tanto trabalho, mas até tenho andado com problemas de sono devido a esta questão e à situação insustentável que alguns pseudoilustres da elite política portuguesa têm criado.
 
Infelizmente o anterior Governo, a meu ver, não se aguentou e, por isso, devido àquele ignóbil do Vasco Graça Moura, e até da FLUL, estamos neste imbróglio horrível e o atual Governo, em vez de respeitar uma convenção legal, assinada entre os 8 países de Língua Oficial Portuguesa, e ir em frente com o AO 1990, faz precisamente o contrário e declara-se pronto a fazer uma revisão a um Tratado que é comum a todos os países lusófonos.
 
Estou deveras assustado e a Helena, a qual já se encontrava desde 2008 a fazer a sua tese de Doutoramento segundo o atual AO, ainda está mais! Claro que continuará, mas não sabemos até que ponto não se verá obrigada a alterar tudo, caso a FLUP resolva ir atrás da sua congénere em Lisboa.
 
Sinceramente, espero que o AO 1990 vá para a frente, mas agora começo a ter dúvidas. É repugnante como este Governo se deixa influenciar por ideias pacóvias e conservadoras, sob a égide do Patriotismo bacoco, sem saberem respeitar o que os linguistas e os diversos países lusófonos acordaram há imensos anos.
 
Não podemos deixar que isto aconteça, mas com este Governo no poder tudo poderá acontecer. Pensava que já tínhamos ultrapassado este impasse, mas agora encontrarmo-nos num ainda pior.
 
Como é possível querer enterrar uma língua una e colocar em questão a evolução da nossa língua, que é de todos os que a falam, e comprometer a ascensão e a aceitação do Português como  língua oficial da ONU, sabendo que querem continuar a diferenciá-la cada vez mais.
 
Tenho vergonha de ser português e tenho pena do povo que se deixa enganar e levar por ditadores que querem continuar a ser/estar "orgulhosamente sós". A língua portuguesa vai sofrer terrivelmente com a revisão deste Acordo, se aquela for em frente, mas posso aqui afirmar que continuarei a escrever conforme o AO 1990, algo que já faço desde 2008. Gostaria igualmente de louvar a atitude do Brasil, o qual soube honrar os seus compromissos, adotando o AO 1990, mostrando que não é pobre de espírito.
 
Portugal ainda não entendeu, porque é tão "pequenino" a todos os níveis, que só perderá com a decisão de rever o AO e de querer criar uma Anarquia Linguística aquém fronteiras, pois, segundo algumas opiniões, poder-se-á escrever conforme se quiser até 2015!!! Para além do facto – sim, tanto se pode escrever "de facto", como "de fato", as duas formas estão corretas – de Portugal não perceber que as grandes potências mundiais do momento, são precisamente aquelas que também compraram partes da nossa dívida, isto é, Angola, Brasil e China (através de Macau), os quais serão as alavancas principais para o desenvolvimento e divulgação da língua portuguesa.
 
Felizmente habito longe dessas mentalidades serôdias e até nas Instituições Europeias, assim como na EuroNews, o AO 1990 já estar a ser aplicado; no primeiro caso desde o início de 2012 e no caso do canal de notícias europeu, desde o início de 2011.
 
Ficarmos isolados do mundo lusófono é o mesmo que negarmos as nossas origens lusófonas. Será um revés para a terceira língua europeia mais falada no mundo. Se os quase 11 milhões de portugueses pensam que o português se manterá vivo em todo o mundo devido à influência de Portugal, então estão muito enganados.
 
Não quero apenas pertencer a um retângulo tão minúsculo, quero continuar a sentir-me e a ser um cidadão do mundo, com orgulho na sua língua, espalhada por todo o mundo e ouvir qualquer pronúncia do português, sabendo que ela se rege pela mesma forma de escrever e sob um Acordo válido e assinado pelos vários países lusófonos.
 
Chegou a hora de Portugal aceitar um erro histórico crasso de ter "inventado" um Acordo Ortográfico em 1911 e não ter consultado o maior país lusófono: o Brasil. Não preciso de consoantes mudas e foi aquilo que o Brasil quis transmitir a Portugal, quando em 1945 não adotou o então existente Acordo Ortográfico. Seria ridículo, e foi ridículo, pedir ao Brasil que reintroduzisse as consoantes mudas nos seus vocábulos, única e exclusivamente com a ideia de Portugal querer, de novo, apoderar-se da língua portuguesa, subjugando os outros países de língua oficial portuguesa às suas vontades.
 
Viva a Lusofonia, viva a língua portuguesa e viva a grafia unificada. Espero bem que Angola, Moçambique e Guiné-Bissau adotem o AO 1990 quanto antes, para Portugal perder a vontade obtusa de querer revê-lo até 2015.
 
Ansiando que melhores tempos venham, envio-te aquele forte e sincero abraço: Tiago Anacleto-Matias

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