quarta-feira, 14 de março de 2012

notas de um linguista amador


REVISTA ÁFRICA21

“Notas de um linguista amador”, por Luiz Ruffato

Só que, assim como no Rio de Janeiro e no Pará, o tu compõe a frase com o verbo flexionado na terceira pessoa do singular: Tu vai, Tu sofre, Tu joga.
Redação revista África21
 
“Como não se apaixonar por um povo que usa como vocativo o adjetivo amado?”
Estou instalado em Porto Alegre, capital do Rio Grande do Sul, o mais meridional dos estados brasileiros, onde, sob um calor próximo aos quarenta graus, busco compor o núcleo do que espero seja o meu próximo livro. Da janela do meu escritório, localizado num bairro que carrega o poético nome de Tristeza, avisto algumas casasencarapitadas em uma suave colina, e sobre elas nuvens carregadas que alertam para uma possível tempestade de verão. Aos poucos, vou me entrosando com os hábitos e costumes da cidade... 

É curioso constatar que, embora sejamos um país bastante homogêneo, principalmente do ponto de vista linguístico, as várias regiões que se espraiam pelos mais de oito mil quilômetros quadrados do nosso território guardam características que as tornam únicas.
Porto Alegre, por exemplo, centro de irradiação da cultura gaúcha, expõe, ao longo do Rio Guaíba, com seus pores-de-sol inesquecíveis, a marca de um povo impregnado por sua história de resistência e tenacidade – afinal, este pedaço do país só foi efetivamente incorporado ao Brasil em 1801, ou seja, após 300 anos de sangrentas disputas entre espanhóis e lusitanos. Certamente, essas escaramuças ajudaram a moldar o caráter do gaúcho, gente formada por descendentes de indígenas, negros e portugueses, mesclados a imigrantes alemães e italianos. 

O contato com a fala da fronteira (o estado tem ao sul o Uruguai e a oeste a Argentina) e a distância com o resto do país ajudaram a imprimir um sotaque bastante peculiar ao Rio Grande do Sul (que também tem variações, como por exemplo o uso do L molhado, como no espanhol, limitado neste caso às cidades fronteiriças). Os habitantes daqui expressam-se na segunda pessoa do singular (tu), o que é pouco comum no Brasil, onde, à exceção do Rio de Janeiro e do Pará, estados com forte influência portuguesa, emprega-se você (derivado do pronome de tratamento Vossa Mercê). Só que, assim como no Rio de Janeiro e no Pará, o tu compõe a frase com o verbo flexionado na terceira pessoa do singular: Tu vai, Tu sofre, Tu joga. 

Leia na íntegra a crónica do escritor brasileiro, na edição de março da revista África21.

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