sábado, 17 de dezembro de 2011

um escritor que Portugal ignora


LIVROS

Luís Miguel Rocha*: "Tive o diário de João Paulo I nas mãos"


Venderam-se 500 mil cópias de "O Último Papa" em todo o mundo. Quem é o escritor que Portugal ignora?
O seu primeiro livro, "Um País Encantado", passou praticamente despercebido em Portugal. Mas bastaram 30 páginas de "O Último Papa" para suscitar interesse - e negócio - em mais de 20 países, num livro de que se venderiam mais de 500 mil cópias. O autor, Luís Miguel Rocha, diz-se excluído do meio literário português, mas isso não o preocupa. Agora está concentrado em publicar um livro por ano, sempre sobre o Vaticano, até 2013. O contrato com a editora americana envolveu meio milhão de dólares. A semana passada entrou para a lista dos 30 mais vendidos do "The New York Times".

Porque diz que existe uma "desconfiança aberrante" em relação ao seu trabalho?

Essa desconfiança só existe aqui. Em qualquer outro lugar, o meu trabalho é sempre elogiado. Talvez seja por ser português. 

Mas sente-se hostilizado pelo meio literário português?

Não me sinto hostilizado porque não estou incluído. Tenho uma relação cordial com os poucos escritores portugueses que conheço. Talvez haja medo de que o mercado seja pequeno para todos, e uma certa inveja em relação a mim, que apareci um pouco de pára-quedas. 

Porque é que a crítica lida mal com autores de bestsellers?

Não faço ideia. Acho que os críticos tendem a não se misturar com o leitor comum, representam uma minoria. Acontece no cinema, na música... 

Quando começou a escrever pensava chegar onde chegou?

Não tinha grandes dúvidas, o único entrave era ser português. Mas quando o conteúdo é bom - e tenho cada vez mais provas de que sim - não há fronteiras. 

O seu segundo livro foi um êxito de vendas. Tentou negociá-lo com alguma editora portuguesa?

O meu objectivo primordial era Itália, por razões históricas. O livro conta a história de um papa desconhecido em quase todo o mundo, mas que diz muito aos italianos. A editora portuguesa veio por arrasto, depois de ter suscitado interesse lá fora.

Nessa altura tinha apenas um manuscrito de 30 páginas. 

Tudo começou em 2005, quando enviei esse manuscrito a alguns agentes. Por coincidência, logo em Outubro realizava-se a Feira de Frankfurt. A agente que contratei conseguiu negociar com 16 editoras.

O factor Dan Brown ajudou?

Serviu de alavanca. Foi uma grande ajuda para estes autores que se dedicam ao thriller, não religioso mas de conspiração. Quando a agente saiu de Frankfurt e me disse que tinha vendido para 16 países e com muitos outros interessados, percebi que não era tanto pela escrita como pelo tema em si.

Considera-se um conspirador?

Não. Trata-se sim de uma história de conspiração. A religião não é para aqui chamada. Falo apenas de pessoas que por acaso pertencem a uma instituição que é o Vaticano. 

Com base em factos reais?

Nisso procuro ser muito rigoroso. O leitor do thriller é muito exigente e gosta de verificar os factos. Se, por exemplo, estiver nalguma cidade citada no livro, gosta de ir ver, confirmar com os próprios olhos. Aliás, tenho uma equipa permanente em Roma a investigar factos ligados ao Vaticano.

Foi assim que arranjou a tal cópia do diário de João Paulo I que lhe inspirou o livro?

Tenho fontes privilegiadas. Se não existissem eu nunca teria publicado estes livros. Quem me passou o diário já não está entre nós. Hoje tenho jornalistas experientes a trabalhar comigo.

Não deixa de ser irónico, visto ter tido uma educação católica e ter trabalhado na Igreja.

Não sou inimigo da Igreja. Tenho imensos amigos padres e bispos. Se não tivesse, os meus livros não existiam. Apenas não lido muito bem com a hierarquia católica, sobretudo do topo. Por outro lado, se o Vaticano não fosse tão fechado, eu não teria matéria para os meus livros.

Vai voltar ao tema?

A minha editora americana contratou mais quatro livros, um por ano, até 2013. O que pretendem é que, como o Daniel Silva, que é meu colega da editora e tem o franchising judaico, eu tenha o católico (risos). Até costumamos brincar com isso...

Que aconteceu com o seu artigo do "The New York Times"?

Pediram-me que escrevesse um artigo de opinião sobre a morte de João Paulo I. Depois acharam que era demasiado forte e não publicaram. Mas um artigo de opinião não é forte nem fraco, é opinião.


*Luís Miguel Rocha nasceu na cidade do Porto, em 1976. 
A Mentira Sagrada é o seu quinto livro, depois de Um País Encantado (2005),O Último Papa (2006), Bala Santa (2007) e A Virgem (2009). 
As suas obras estão publicadas em mais de 30 países e foi o primeiro autor português a entrar para o top do New York Times. O Último Papa, best-seller internacional, vendeu mais de meio milhão de exemplares em todo o mundo.
Foi repórter de imagem, tradutor e guionista. Atualmente dedica-se em exclusivo à escrita. 
Mentira Sagrada é o seu quinto livro, depois de Um País Encantado (2005),O Último Papa (2006), Bala Santa (2007) e A Virgem (2009). 
As suas obras estão publicadas em mais de 30 países e foi o primeiro autor português a entrar para o top do New York Times. O Último Papa, best-seller internacional, vendeu mais de meio milhão de exemplares em todo o mundo.




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