domingo, 18 de dezembro de 2011

Rodrigo Álvares (séc. XV) O primeiro prototipógrafo português


Rodrigo Álvares (séc. XV)

O primeiro prototipógrafo português. Este mestre de emprentar livros é o impressor das «Constituições» do Bispo do Porto, saídas do prelo em 1497.

Do prelo de Rodrigo Álvares são conhecidas duas obras: As Constituições que fez ho Senhor dom Diogo de Sousa e Os Evangelhos e Epístolas com as suas exposições en romãce. Ambas obras foram impressas em 1497.

A 4 de Janeiro de 1497 foi publicada na cidade do Porto a obra Constituições que fez o Senhor Dom Diogo de Sousa, Bispo do Porto, livro impresso pelo primeiro prototipógrafo português, o transmontano Rodrigo Álvares.
Para plena satisfação dos historiadores nacionalistas, que acreditam que Álvares foi mais português que o judeu Gacon... (Há patrioteiros que preferem ignorar que Portugal nesta época ainda era um país multicultural, onde coexistiam pelo menos três culturas e quatro idiomas: cristã, islâmica e judaica, e latim, português, árabe e hebraico.
Na obra de Rodrigo Álvares está visível a influência dos prototipógrafos alemães, pois este livro foi impresso com Gótica rotunda, e esses tipos móveis ou vinham da Alemanha ou dos impressores alemães estabelecidos em Espanha.
Rodrigo Álvares nasceu em Vila Real; esteve activo como impressor e editor no Porto. Aqui, como colaborador do bispo Diogo de Sousa, imprimiu as Constituições Sinoidais e os Evangelhos e Epístolas, ambas obras em 1497.
Constituições
As Constituições que fez ho Senhor dom Diogo de Sousa , acabadas pelo «mestre de emprentar livros» em 4 de Janeiro de 1497, são uma impressão com 32 fólios.
Nas Constituições o tipo é uma Gótica rotunda de um só corpo, ornado com capitais unciais . A composição tipográfica é a uma coluna, com 40 linhas por folha. A imposição é em três cadernos e o papel tem marcas de água de diversas proveniências.
São conhecidos apenas dois exemplares, um dos quais incompleto, faltando-lhe a folha de subscrição tipográfica final; encontra-se na Biblioteca Pública Municipal do Porto. O outro exemplar, completo, foi adquirido para a Biblioteca Real do Paço de Vila Viçosa.
Dos Evangelhos e Epístolas existe hoje apenas um único exemplar completo. Esta obra foi publicada e impressa pela primeira vez em Sevilha em 1485, na oficina do alemão Pablo Hurus e, em 1493, na cidade de Salamanca por um impressor desconhecido. A tradução em português será do próprio Rodrigo Álvares, a partir desta última edição.
A impressão foi feita com Gótica rotunda, em dois tamanhos, em 25 de Outubro de 1497. A composição é a duas colunas e tem 62 gravuras, 14 das quais foram repetidas. A foliação é de 200 fólios e a imposição é em cadernos de 4 folhas em papel grosso.
As relações entre o bispo Diogo de Sousa e Rodrigo Álvares continuaram depois de 1497; é possível que o tipógrafo nortenho tenha impresso, por volta de 1506, no Porto ou em Braga, umas segundas Constituições de Dom Diogo – obra da qual existe um exemplar na Biblioteca Pública Municipal do Porto, sem indicação de data ou local de impressão.
Para além destas impressões, especulou-se que Álvares teria sido impressor de breviários. O romancista Aquilino Ribeiro escreveu que Rodrigo Álvares aprendera o ofício com o tipógrafo alemão Pablo Hurus em Saragóça, hipótese que o bem esclarecido especialista Artur Anselmo refuta.
Outros são da opinião que terá aprendido em Salamanca, ou Braga, na oficina do alemão João Gherlin. Rodrigo Álvares poderia ter sido discípulo de Gherlin e dele teria recebido os tipos para os trabalhos realizados no Porto, os quais são um ampliação das matrizes do Breviarium Bracharense de 1494.
Fontes
A gótica rotunda digitalisada
Links
Consulte a grande colecção de incunábulos da biblioteca japonesa National Diet Library, em www.ndl.go.jp/incunabula
Bibliografia
Heitlinger, Paulo. Alfabetos, Tipografia e Caligrafia. Copyright © 2010 Paulo Heitlinger, Dinalivro. Lisboa, 2010. ISBN: 9789725765661.
Heitlinger, Paulo. Tipografia: origens, formas e uso das letras. 2006 Paulo Heitlinger, ISBN 10 972-576-396-3. Dinalivro. Lisboa, 2006.

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