domingo, 18 de dezembro de 2011

Por que o Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa não “pega” em Portugal?


 Por que o Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa não “pega” em Portugal?

Print Dizem que no Brasil, certas leis “pegam” e outras não. Ao que parece, podemos dizer o mesmo com relação ao Acordo Ortográfico, só que em Portugal. O projeto, que tem também o seu viés político e não apenas linguístico, tem críticos de ambos os lados do Atlântico, mas os portugueses apresentam razões muito mais conservadoras e anacrônicas para não apoiarem o acordo.

No processo de Independência do Brasil, foi preciso criar os fundamentos da nação brasileira, tal como a noção de pertencimento a uma coletividade nacional, a bandeira, o hino, a literatura em comum e, é claro, a língua. Precisando se distanciar de seu passado português, o Brasil jamais se sujeitou às normas ortográficas portuguesas, preferindo criar as suas próprias. Com o tempo isso deu origem ao “português brasileiro” que temos hoje, e houveram algumas tentativas frustradas de acordo com os lusitanos, como a de 1911, e de 1945, mas nenhuma delas foi tão ampla e consensual como este de 1990. Em 2009, o Acordo entrou em vigor no Brasil, mas em Portugal, amplos setores da sociedade resistem à sua implementação. Por quê?

nova-ortografia

Ao que tudo indica, muitos portugueses ainda se fiam em seu passado conservador e colonialista para defender o que consideram uma “manutenção da pureza da língua original”, da qual Portugal seria a guardiã por direito. Além disso, rechaçam a “brasilianização da ortografia” e o “colonialismo dos ex-colonizados”, que pretendem impor uma “humilhação estatística a Portugal: 1,4% de alterações para Portugal contra uns míseros 0,5% do Brasil” (José Luiz Fiorin, USP). Um dos mais ferozes críticos do Acordo Ortográfico é o escritor português Vasco da Graça Moura, que lança uma vasta coleção de pérolas contra o tratado, dentre os quais:
1) “o acordo serve interesses geopolíticos e empresariais brasileiros, em detrimento dos interesses inalienáveis dos demais falantes de português no mundo, em especial do nosso país”;
2) “é uma lesão de um capital simbólico acumulado e de projeção planetária”;
3) “vai homogeneizar integralmente a grafia portuguesa com a brasileira (....) desfigurando a escrita, a pronúncia e a língua, que são nossas”

acordo pnr A língua é “deles”. Propaganda contra o acordo, do Partido Nacional Renovador, da direita portuguesa

Por trás destes argumentos “patrioteiros”, estão também os interesses dos editores e livreiros portugueses, com medo de perderem sua fatia no mercado editorial do mundo lusófono para os brasileiros.
O Novo Acordo Ortográfico não visa tirar a soberania, nem desfigurar a língua de nenhum país. Ele apenas sugere que a ortografia da língua portuguesa seja unificada, respeitando as características regionais (e daí vermos por exemplo a possibilidade de se grafar a mesma palavra de formas diferentes, o que muitos críticos, inclusive brasileiros, interpretaram equivocadamente como “falta de acordo”) para criar uma Comunidade Lusófona. Mas será preciso romper com a resistência de setores da extrema-direita portuguesa, que tal como seu patrono máximo, Salazar, sofrem da “síndrome salazarista de Badajoz”*, que tanto mal causou ao país nos últimos anos, por sustentarem firmemente o lema do ditador: “orgulhosamente sós"!
* alusão ao fato de Salazar nunca ter ido, simbolicamente, além daquela cidade fronteiriça de Badajoz e que, também simbolicamente, traduz a estreiteza das suas vistas e visões conservadoras

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