sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

POEMAS À MINHA GALIZA LUSÓFONA


ao celebrar 40 anos de vida literária criei um capítulo GALIZÓFONA



501      partir ii  (à concha rousia e a uma galiza lusófona)


partir!
              cortar amarras
como se ficar fosse já um naufrágio
ficar
       como quem parte nunca
partir
       como quem fica nas asas do tempo
partir!
              cortar grilhetas
       como se viver fosse uma morte adiada
vencer ameias
                     cortar amarras
velas ao vento
                     olhar o mundo
                     descobrir liberdades
esta a mensagem
                            levar o desespero
                                                           ao limiar
até erguer a voz
                     sem medos
até rasgar as pedras
                                 e o ventre úbere
semear desencanto
                            sorrir
                                        à grande utopia
nascer
              de novo
dar o salto
              transpor a fronteira
                                        entre o ter e o ser
imaginar
              como só os loucos sabem

e então chegaste
                            com primaveras nos dedos
                            e liberdade por nome
loucas promessas insinuavas
despontaste
                     como quem acorda horizontes perdidos
demos as mãos
                     sabor de início do mundo
pendão das palavras por dizer
esta a revolução
                            minha bandeira por desfraldar

s. martinho do porto, setembro, 5, 1976/lomba da maia, açores fev 13, 2011

525. Galiza como Hiroshima mon amour


acordaste e ouviste o teu hino
bandeira desfraldada ao vento
ao intrépido som
das armas de breogán
amor da terra verde,
da verde terra nossa,
à nobre lusitânia
os braços estende amigos,
desperta do teu sono
pega nos irmãos
caminha pelas estradas
ergue bem alto a tua voz
diz a quem te ouvir quem és
orgulhosa, vetusta e altiva
indomada criatura
nenhum poder te subjugará
nenhum exército te conquistará
nenhuma lei te amiquilará
és a Galiza mon amour






528. ah como eu gostava 16/11/2011


portugal lembra o filho ingrato
que sai de casa levando as malas
cresce como um  sem-abrigo
vivendo de expedientes
sujo, maltrapilho e destituído
mas orgulhosamente só e independente
altivo olha a galiza do tempo dos aguadeiros
da pobreza, fome e sofrimento
e sente-se superior
não reconhece pai ou mãe
nem partilha um cobertor
comporta-se como assaltante
aliado ao invasor
esqueceu a história e perdeu os genes

ah como eu gostava de ser galego

 


530. pesadelo zoológico 3 dezembro 2011 à concha rousia


s  castelhano
onhei estar num circo
era um leão amestrado
o domador  espanhol
senti-me galego

eles não sabem
que não há leões domados
vivem anestesiados
um dia acordam
sem ronronar em castrapo
vou esperar pelo chicote
                                   desobediente
aguardo que ele erga a cadeira
estreleje o látego
e me mande falar
aí direi ao castelhano
já chega de circo
o palhaço és tu.

acordei e não vi bandeiras de castela





531.   lendas  da minha galiza 11 dez 2011


Galiza és tão especial
quando sorris
por que não sorris sempre?

és tão bela
quando ris com gargalhadas cristalinas
por que não ris sempre?

és  tão amorosa
quando falas e cicias
por que não falas sempre?


no meu quintal tenho um poço
sempre cheio de palavras
onde vou buscar inspiração

é lá que busco amores
como se fora o monte das Ánimas
na era dos Templários
quando os cervos eram livres e não havia lobos

foi lá que aprendi a tua história
depois de Ith filho de Breogán
ir à Torre de Hércules
divisar Eirin a Verde

morto Ith, perdidas as Cassitérides
aprisionados os Ártabros
resta visitar Santo Andrés de Teixido
duas vezes de morto
que não o visitei uma de vivo

e esta história queda silente
nos livros e na memória dos velhos
por que não a aprendem os nenos?
agora que o rio Minho passa caladinho
para não despertar os meninos


hoje quando fui ao poço
encontrei-o seco e mirrado
sem um fio de água sequer
não havia pardais nas árvores
nem flores no jardim
senti  o coração trespassado
as lágrimas secaram-me
aºao trespassado Castelaer
 caladinho
fincado no chão
pios e polinia fadas ou sereias
atopei umas Meigas
a dançar com o Dianho
foi então que o vi, o Chupacabras
estandarte de Castela

não mais haveria fadas ou sereias
cronópios e polinópios
vou juntar ferraduras, alho e sal
colares de conchas e tesouras abertas
esconjuro-vos ó meigas castelhanas
que me salve o burro farinheiro
vou ao banho santo em Lanzada (sansenxo)

hei de te encontrar minha moura encantada
não tenho medo de travessuras de Trasgos
nem Marimanta ou Dama de Castro
sem temor da Santa Companhatravessuras de Trasgos
a
a Santa Companha
nem do Nubeiro  vagueando
entre tempestades e tormentas

hei de te encontrar minha moura encantada
e brotará áuga do meu poço
escreverei os versos e serão mágicos
erguerei a tua flâmula
no poste mais alto e cantarei
Galiza livre sempre








532.  genevieve  13 dez 2011


genevieve era nome de mulher
um restaurante japonês
no meio de chinatown
sorrisos largos e astutos
mansos como o rio minho
olhos profundos amendoados
como o canon do sil
prometia ribeiras sacras
seios amplos acolhedores
como as rias baixas

genoveva da galiza
amazonaom saudades de arousamazona
s
amazonaaa em sidney
um pai na argentina
uma mãe em paris
com saudades de arousa
promovia sushi com saké
loucas bebedeiras em galego



533. concha é nome de guerra 13 dezembro 2011


para ti não há música nem dança
apenas as artes marciais
guerrilheira de montes e vales
urdidora de emboscadas
sob a copa das amplas árvores
brandes teu gládio de palavras suaves
não usas as falas do inimigo
vingas a dor de seres galega

a montanha que herdaste sozinha
prenhada de mar na ilha dos nossos
o povo desaparecido da Rousia aldeia
esse recanto insuspeito ao virar da raia
onde fui a férias em 2005 sem te saber
eu que nasci galego do sul
sendo galego de Celanova
apartado de meus irmãos e irmãs
séculos de história ao desbarato
distavam mares que nunca navegámos
montes que nunca escalámos
estrelas que jamais enxergámos
até um dia em que surgiste
vestias azul e branco orlada a ouro
estandarte do nosso reino
ciciavas liberdades por atingir
sonhos por realizar
brandias a tua utopia
numa mesma lusofonia





536. elegia à AGLP 16 dez 2011

viver numa ilha é prisão
sair dela é impossível
nem com a velocidade da chita
nem com a força do elefante
nem com o mergulho do cachalote
de nada servem passaportes
nem vistos consulares
só água nos rodeia
preciso saber nadar


viver na Galiza é prisão
sair dela é possível
mas não elimina os carcereiros
não abate as grades do cárcere
não liberta do cativeiro
mas nas árvores de NottinGaliza
há sempre uma Concha dos Bosques
ou um Ângelo Merlim
um Joám Pequeno Evans Pim
um frei Tuck Montero Santalha
e seu bando de lusofalantes
manejando o arco
invencível besta da lusofonia


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