segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

in diálogos lusófonos

Escritor angolano “acusa” CPLP de inacção cultural! PDF Versão para impressão Enviar por E-mail
Vida e Lazer - Cultura
Escrito por Inocêncio Albino   
Quinta, 24 Novembro 2011 16:10
Nos anos subsequentes às independências, muitos pensadores futuristas apontaram a riqueza–em recursos minerais e energéticos – existente, no continente, como sendo um potencial factor para o desenvolvimento. Em contra-censo a isso, as guerras internas que, logo a seguir, se irromperam mostraram que não é bem assim. A miséria continua a ser a tónica dominante em África.
É sobre o impacto desastroso das guerras africanas que Lopito Feijo, o escritor angolano que “acusa” a CPLP de ser uma organização inerte (no aspecto do intercâmbio cultural) fala, na obra “Marcas de Guerra: Percepção íntima e outros fonemas doutrinários”, relançado recentemente em Maputo.
Partamos do caso da CPLP, para recordar que no dia sete de Julho do ano 2011, a “Comunidade dos Países da Língua Portuguesa” completou 15 anos desde quando foi criada.
Sobre o assunto, o ex-deputado da Assembleia da República Angolana e escritor Lopito Feijó não faz, necessariamente, um (bom) balanço. Revela-se pouco satisfeito com o facto de volvidos longos anos, esta entidade seja pouco vibrante. Para si, é como se tivesse havido mais intercâmbio cultural no seio dos países de expressão lusófona no período anterior à sua criação que ao longo dos anos posteriores.
“Eu critico insistentemente o funcionamento da Comunidade dos Países da Língua Portuguesa. É que ainda que esta organização exista, eu, enquanto autor, artista, ou escritor, não o sinto. Não sinto o seu efeito. É como se não existisse. E nós saudamos a sua criação porque pensámos que, do ponto de vista das relações culturais, estaríamos melhor do que quando ela não existia”, diz.
Feijó tardou-se a falar do caso particular de Moçambique e Angola. E, novamente, de forma holística, traça um quadro pouco pitoresco no campo de intercâmbio cultural. “Esfriou!”
As inquietações
O escriba diz não compreender os desdobramentos das relações sócio-políticas e, acima de tudo, culturais dos países falantes do português no sul da África – Angola e Moçambique – nos anos que se seguiram à morte dos primeiros presidentes de ambos os Estados. Referimo-nos a Agostinho Neto e Samora Machel.
“Não consigo perceber, no contexto das relações sócio-culturais e políticas, o que é que está a acontecer entre Angola e Moçambique desde 1975”. Bastou a morte dos seus primeiros líderes para “muitos aspectos de intercâmbio entre (ambos) os povos ficarem confusos”.
Para Lopito, “o que aconteceu é que depois da morte destes líderes, as nossas relações, de uma forma geral, esfriaram. Deve haver problemas que só poderão ser percebidos nos próximo 50 anos. Mas o problema é que isso agora afecta-nos negativamente, como também afectará as novas gerações”.
Fraca percepção da cultura
O outro aspecto negativo apontado pelo escritor angolano como negativo nos países do Berço da Humanidade é a confusão que se faz em relação à cultura.
“As vezes temos a impressão de que a cultura é só música. Por exemplo, em Angola há um movimento editorial de música muito intenso, de tal sorte que em cada semana se produzem cinco trabalhos discográficos”. E curiosamente, “há patrocínios de grandes empresas para a produção e publicação de CD´s e Vídeos cujas músicas só dizem asneiras”.
Pior ainda, “não existem leis de mecenato funcionais. As políticas do livro não se fazem sentir”. A consequência imediata do fenómeno é que “nós, os autores, enfrentamos inúmeras dificuldades para publicar as nossas obras”. As embirrações dos mecenas culturais atingiram inclusive as academias, locais de produção de conhecimento científico.
Actualmente, “temos, em Angola, perto 10 universidades públicas. Além das dezenas que do nada surgiram como cogumelos. Mas o problema é que também não desenvolvem pesquisas científicas. E os estudantes que delas emanam são todos muito fracos sob o ponto de vista técnico e científico”, diz.
No entanto, ainda que em relação a Moçambique, o autor sinta que “a Universidade Eduardo Mondlane, pelo menos, no campo de pesquisa social está a funcionar” não deixa de lamentar o facto de tal desenvolvimento, além de mesmo em Moçambique ser parcial, “não se verifica em Angola”.
“Como é que poderemos fazer troca, se em princípio, numa situação o intercâmbio pressupõe que as partes, realizem trocas recíprocas?”, questiona.
Ainda na senda das acusações, Lopito Feijó que em 2012 irá publicar “Lexical doutrinário” realça as dificuldades porque em África provocam uma espécie de apatia nos artistas africanos em relação aos eventos culturais.
Diz ele que participámos num “Festival Internacional de Poesia, em Havana, que era dedicado à África”. No entanto, e de forma inesperada, “os únicos países africanos que por lá se fizeram apresentar (apenas) Moçambique, Angola Nigéria”.
Isso é lamentável, “sobretudo porque a África também pode produzir os seus festivais e, intercâmbios culturais”, o que não tem feito em medida satisfatória. Para em última análise considerar que “pelo menos, na área cultural, a CPLP podia ajudar os países no sentido de proporcionar estas condições”.
Os prestigiados
De acordo com Lopito Feijó, o marasmo dos países africanos no campo de intercâmbios culturais chega a ser contraditório. Primeiro, porque “em razão das lutas de libertação nacional, os escritores angolanos e moçambicanos, por exemplo, são pessoas de muito prestígio social.
Personalidades que estão ligados ao sistema de poder”, o que até certo ponto devia ajudar na conquista destes ideais. Ora, “eu fico satisfeito em saber que o Nelson Saúte é um gestor (de uma editora livreira) de qualidade. Que o escritor moçambicano, Armando Artur, é ministro da cultura”, associa.

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