quarta-feira, 14 de setembro de 2011

A Rota do Escravo





Mais um abraço de
 
Simao SOUINDOULA
 

 
FUNDACAO EDUARDO DOS SANTOS - FESA
 
2011, Ano Internacional das Populações Afro descendentes
 
23 de Agosto, Dia Internacional da Comemoração do Trafico Negreiro e da sua Abolição
 
 
 
 
Palestra
 
Anfiteatro da Faculdade de Direito da Universidade Agostinho Neto
23 de Agosto de 2011, a partir das 10 horas
 
 
 
 
Tema :
« Escravos angolanos povoaram também as  Antilhas Neerlandesas »
 
Por
Simão SOUINDOULA
 Comité Cientifico  Internacional
do Projecto da UNESCO « A Rota do Escravo »
C.P. 2313 Luanda  (Angola)
Tel.  : + 244 929 74 57 34
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Excelências,
 
Exmo. Sr. Director Geral da FESA,
 
         Ilustres Professores e caros colegas,
 
 Minhas Senhoras, Meus Senhores,
 
Caros estudantes,
 
Fieis amigos,
 
 
 
E, para mim, um verdadeiro privilegio de poder intervir, pela primeira vez, neste anfiteatro, no quadro deste encontro organizado pela Fundação  Eduardo Dos Santos.
 
A organização pela esta instituição da presente reunião e pertinente porque encaixando-se bem neste ano, que foi declarado pelas Nações Unidas como o consagrado, prioritariamente, as Populações Afro descendentes e marcando a celebração do dia 23 de Agosto, Jornada Internacional da Comemoração do Trafico Negreiro e da sua Abolição.
 
A escolha pela FESA do tema desta actividade, “A Rota do Escravo” no quadro, também, do celebração de mais um aniversário natalício do seu Patrono, não foi por acaso.
 
Com efeito, o Presidente José Eduardo Dos Santos faz parte da geração dos nacionalistas africanos que sentiram, directamente, os efeitos sociais, negativos, da politica neo-esclavagista da administração colonial portuguesa, que foi implementada a partir do fim da segunda metade do século XIX.
 
E, fizeram uma leitura justa da evolução histórica ocorrida no Império; houve, de facto, um verdadeiro continuum da exploração esclavagista com a instituição do trabalho forçado e do trabalho contratado.
 
Este período de perpetuação da exploração, primitiva, dos nigers, foi uma das bases do implacável sentimento nacionalista desses combatentes.
 
O jovem José Eduardo Dos Santos, grande alma do Conjunto Nzaji, confirmara esta atitude, com a sua cantilena libertadora.
 
Ele continuara a dar, uma atenção particular e constante, a diáspora de raiz “angolana” nas Américas e nas Caraíbas.
 
Esta leitura histórica foi, absolutamente, pertinente. Com efeito, a historia do nosso pais, no sentido heleno, tem cinco séculos, constituídos, para o essencial, de uma aferrolhagem esclavagista, pura e dura, e uma fase neo-esclavagista, de mesmo grau de opressão e humilhação.
 
O poeta Agostinho Neto, sensível a esta trama histórica, sibilino, predizara a verdadeira abolição da escravidão em Angola.
 
E, por isso, penso que a escolha deste tema pela FESA e plenamente justificada.
 
Será, então, igualmente, justo, saudar o acordo dado pelo o Patrono da Fundação afim de abordar, hoje e aqui, os contornos dessa nossa penosa história.
 
Este acordo que mereceu a satisfação da Directora Geral da UNESCO, a Professora Irina Bokova, que considera Angola como um dos pais que apoia o desenvolvimento do emblemático Projecto “A Rota do Escravo”, cujo um dos membros do seu Comité Cientifico Internacional e o orador.
 
Não queria passar a substância da minha intervenção sem desejar ao Chefe de Estado, um Bom Aniversario e que Ele continua a dirigir o nosso pais com a sua notável e exemplar serenidade e o seu elevado sentido de patriotismo e humanismo.
 
Excelências,
 
Exmo. Sr. Director Geral da FESA,
 
         Ilustres Professores e colegas,
 
 Minhas Senhoras, Meus Senhores,
 
Caros estudantes,
 
Fieis amigos,
 
 
Abordaremos o desenvolvimento da nossa exposição intitulada “Escravos angolanos povoaram, também, as Antilhas Neerlandesas”  baseando no estudo da Rosa Mary Allen, publicado na obra colectiva “Presencia africana en el Caribe”, livro editado sob a coordenação da africanista mexicana Luz Maria Martinez Montiel pelo Conselho Nacional pela Cultura e Artes dos Estados Unidos do Mexico, na sua didáctica colecção “Chaves da América Latina. A nossa Terceira Raiz “.
 
          Mary Allen recorda a instalação da mão-de-obra negra nas cinco ilhas holandesas das Caraíbas, Curacao, Bonaire e aparentadas.
 
  CRIOULO GUENE
 
Propõe como primeira marca de identidade cultural do grupo ilhéu,   o crioulo guéné, hoje extinto.
 
         Esta língua resuma bem a história da expansão, deportação de escravos e colonização holandesas em Africa, nas Américas e nas Caraíbas.
 
         Constituindo uma das potencias marítimas e financeiras, mercantilistas, dentre das mais activas da Europa, no século XVII, as Províncias Unidas, grandes rivais dos gémeos ibéricos, com a seu eficiente instrumento de negócios e colonização, a celebre Companhia das Índias Ocidentais, ocupara, a partir de 1629, e isso, durante uma vintena de anos, a estratégica Pernambuco _ incluindo Alagoas –, e outras regiões da imensa colónia portuguesa do Brasil, grande consumidora de congos, ngolas e mozambiques.
 
         Com efeito, as tropas holandesas controlarão Itamaraca, Paraiba e Rio Grande do Norte. Fala-se, então, de um Brasil holandês!
 
         E, neste sub-continente, que a “Companhia” vai gerir, pela primeira vez, um grande número de melano-africanos. Com efeito, em 1630, a Capitania de Pernambuco recenseou, ai, mais de 48 000 trabalhadores negros!
 
         A Holanda continuara a ocupar, paralelamente, territórios no continente, nomeadamente, em Tobago e no Suriname e as suas seis ilhas  nas Caraíbas.
 
         Expansionista, Amesterdão ousara ocupar, sobre a costa ocidental de Africa, entre outros centros esclavagistas, São Tomé, e sobretudo, de 1640 a 1648, a preciosa São Paulo de Loanda.
 
         Com efeito, esta cidade é uma boa posição, porque a viagem entre “As Portas do Mar” loandesas e as costas brasileiras era menos demorosa.
 
         E, estima-se, durante os sete anos que ela ocupou o principal centro da Colónia de Angola, a Holanda transportou mais de 12 000 cativos ngolas, mundongos, matambas e congos.
 
         Preocupado pela mono- importação negreira, o “Hof van Politie” de Pernambuco comunicara, no dia 26 de Julho de 16 30, a Companhia das Índias Ocidentais, que um navio acabava de acostar, mas , com unicamente, “carne humana negra”.
 
         E, este posicionamento geoestratégico que permitira, para o essencial, aos negreiros holandeses, introduzir importantes contingentes de “negros de água salgada” nas suas possessões nas Antilhas, directamente, portanto, da contra costa ou via o Brasil.
 
         Avalia-se que a Holanda transportou, além Atlantico, mais de 10% de melano -africanos. Uma das suas regiões de abastecimento, em madeira de ébano, foi a Loango Coast/Angola.
 
         Este aprovisionamento se reflectira, naturalmente, em Curaçao.
 
         E assim que o livro de baptismos, datado de 1755, da Igreja de Santa Ana, contem interessantes indicações sobre as origens étnicas ou os antropónimos de mães de crianças recipiendárias. Com efeito, reencontram-se, ai, menções tais como congo, canga, jamba, loango, angora, macamba ou macambi.
 
         Esta ascendência será, igualmente, atestada em certas expressões, muitas das vezes depreciativas, do papiamento, o crioulo da ilha.
 
         Mary Allen utilizou, a este respeito, entre outras fontes, a obra do Padre Brennenker “ Sambumbu, Volkskunde van Curaçao ...” e propõe uma dezena de cantos em crioulo.
 
         Assim, este falar fixou, definitivamente, a sentença
 
         -“Bisti manera un loango” (Vestir roupa de cores brilhantes);
 
         -a comparação  papia luango, ( falar a toa));
 
         - e o ditado  «  E ku bo wela luango a sina bo awe, di mi criojo a sinami kaba », (o que o teu antepassado luango ensinou-lhe, o meu avo crioulo o ensinou também).
 
         Reencontrada e utilizada pelos os Loango, a planta antidiarreica Stamodia maritima, é designada, no falar corrente, puta luango.
 
         Os topónimos kanga e mundongo indicam bem laços os laços históricos com os antigos Kongo e Ndongo.
 
            EPONIMIZAÇAO
 
         Inspirar-se-á do kimbundu, guéné, para eponimizaçao do antigo idioma crioulizado da ilha.
 
         Este termo se tornara genérico e será aplicado a diversos aspectos da vida social, kantika di guéné significando cantigas cantadas em crioulo, kantika de makamba, cantos de amizade e o inevitável galina guéné, o galo local, suposto proteger as casas contra o mau espírito, o mal airu.
 
         Notar-se-á que um dos alimentos de base dos ilhéus é o funche, a base de farinha de milho.
 
         O capítulo sobre Surinam niger é proposto por Wim Hoobergen e reencontra-se, ai, como uma das principais regiões de origem dos afro-surinamenses, o Loango/Angola.
 
         Um dos factos que confirma a forte presença dos Bantu no Suriname é a famosa gravura “Familia loango” inserida na obra de John G. Stedman, publicada em 1796.
 
         Terras de intermináveis insurreições, as anais conservaram nomes de alguns líderes tais como Pambu, Musinga, Makamaka e Sambo.
 
Esta apresentação confirma o que foi o nosso pais durante três séculos; uma das zonas de maior fornecimento de mão-de-obra para o Novo Mundo.
 
Consequência, encontra-se comunidades que reivindicam as suas raízes congo, ngola, cabinda, malembo, mondongo, matamba, cassanje, quicama e benguela, sobre praticamente todo o continente americano e o conjunto insular caribenho.
 
Esta realidade humana obriga o nosso pais a consolidar e desenvolver a sua politica de aproximação e de cooperação com todos os países do Novo Mundo, e cuja uma das passagens será, sem duvida, a médio prazo, a realização de uma Conferencia Internacional sobre “Angola e a sua Diaspora”.
 
Muito obrigado!


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