quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Rota do Escravo 2


Calorosas saudacoes de
 
Simao SOUINDOULA
 
 
2011, ANO INTERNACIONAL DAS POPULACOES AFRODESCENDENTES
 
A ROTA NORTE-AMERICANA DA ESCRAVATURA
 
OS CONGOS/ANGOLAS CONTRIBUIRAM NA FORMACAO DOS MELUNGEONS
 
 
E uma das conclusões que se alista do livrinho que acaba de ser publicado, em Luanda, sob o titulo, previsível,  « Angolanos na formação dos Estados Unidos de América ».
Esta simpática síntese foi editada, corajosamente a conta de autor, pelo jovem Vladmiro Fortuna, conservador no Museu da Escravatura.
 
 
Selado em 143 páginas, o estudo articula-se em quatro capítulos dentre dos quais o autor aprecia, sucessivamente, e para o essencial, a natureza das relações entre os Europeus e os primeiros negro - africanos na América do norte no seculo XVII, insistindo nas relações na Colónia de Jamestown, na Virgínia, em 1607.

Aborda, naturalmente, a constituição dos enigmáticos melungeons e alguns traços históricos « angolanos » nos EUA.
 
 O neo- americanista juntou ao seu ensaio dois mapas que indicam a famosa região Congo/Angola, principal zona de embarque dos cativos conduzidos para o norte do Novo Mundo, entre 1619 e 1660, e cujos direcções privilegiadas foram a Virgínia e Nova Amesterdão.
 
Anexou gravuras de Rugendas que estampilhou retratos dos originários do Reino e da Colónia,   uma estampa representando o elegante Francisco Angola, homem livre na principal cidade holandesa do setentrião  americano e uma fotografia de uma família de algodoeiros,   perto de Savannah, na Geórgia, nos anos 1860.
 
A fim de apoiar o seu ponto de vista sobre a intensidade do abastecimento da mão-de-obra escravo dos dois territórios para a América setentrional, Fortuna recorda, para o essencial, na base dos trabalhos do casal, erudito, norte-americano, John Thornton e Linda Heywood, que, entre 1710 e 1769, 15,7% dos cativos introduzidos na Virgínia, vinham do actual território angolano.

MELUNGEONS
 
Quanto a Carolina do sul,   registou, entre 1733 e 1807, a instalação de uma populacao niger, cujo 39, 6% era originário das terras dos Nzinga.
 
Um dos factos antropo - biológicos e sociais, maiores, da significativa instalação na Virgínia dos congos, mundongos, cassanjes, matambas e benguelas será, visivelmente,  a sua mestiçagem, continua, com diversos grupos de ameríndios  e europeus ; dinâmica que permitira a emergência de uma componente humana bastante particular, os melungeons.
 
Contrariamente a investigadores que supõem uma etimologia árabe deste etnónimo, Thornton e de opinião que o termo e de origem bantu. Provém do vocábulo malungu, no seu sentido, forte, de companheiro de infortúnio e de irmão de travessia.
 
A hipótese bantu e reforçada pelo campo semântico em kikongo e kimbundu,  que atesta os termos lungu, ulungu(sing) e malungu (plur), no sentido de embarcação.
 
O quadro sinonímico nessas duas línguas e claro, nlangu ou kalunga significando uma massa de água, o mar.
 
O termo utilizado no porto, o proto- crioulo afro- português, e que será introduzido no inicio do século XVII, nas plantações virginianas, e bem « melungo ». Tudo indica que esses infelizes « Portyghee » abandonados pelo um navio na costa atlântica oeste, norte - americana, eram constituídos de ibéricos, tanto leucodermes que melanodermes.
 
 Convencido pela esta hipótese, Tim Hashaw escolhera o termo malungu para o título de um dos artigos, os mais falados, trabalho publicado, em 2001, na revista de William and Mary College, em Atlanta.
 
Esta suposição de uma etimologia bantu e reforçada pela sólida perpetuação desta designação no Brasil. Sua cristalização em melungeon derivaria da influência tonal do inglês.
 
A ascendência « angolana» de algumas famílias desses « mongrels » (mestiços) será suposta pelas suas particularidades patronímicas. Com efeito, encontra-se, no seu seio, pretos chamando-se Emanuel Driggers (Rodriggus), Chavis e Fernando.
 
Esses eram, muitas das vezes, homens livres, « companheiros» de colonos ingleses, a exemplo, nos anos 1620, de António e da sua esposa Isabella ou de John Pedro.
 
Essas comunidades  de “híbridos” evoluirão na Virgínia, Carolina, no Maryland, Delaware, Kentucky, Tennessee, Ohio, na Louisiana, no New Jersey e Texas.
 
ANGOLOOLISCHEN
 
Mais ao norte, na Nova Amesterdão, uma dezena de cativos vindos da África central, sob encomendas, comprados junto de corsários ou embarcados em São Paulo de Loanda, ocupada pelos holandeses, de 1640 a 1648, se farão assinalar em 1644, pela submissão de uma petição solicitando a sua alforria. Nota-se, aí, as assinaturas de « negros neerlandeses » tais como Paul d’Angola e Simon Congo.
 
Os registos dos baptismos na Nova Amesterdão confirmam a presença desses « angoloolischen slavinnen ». Encontra-se, aí, dezenas de van Angola tais como Pallas Negrinne van Angola ou Antony van Angola-Negers.
 
Na Virgínia, os arquivos conservaram documento sobre famílias niger tais como Cumbo, antropónimo, tornado Cambow ou Longo.
 
Na Colónia britânica de Jamestown, listas de « portugueses » ( ?) foram preservadas. Nota-se, aí, o casal Congo/Cossongo e uma mulher nomeada Palassa, antropónimo muito usado no seio dos Bantu instalados no norte do Novo Mundo.  
 
Observa-se nos arquivos que o filho do Governador da Virgínia tinha ao seu serviço, um negro - africano, visivelmente bantu, chamado Ndulu.
 
As comunidades de escravos vindos do Ndongo,  Matamba,  Cassanje e das regiões adjacentes perpetuarão o topónimo Angola em diversas localidades território americano.
 
Rebeldes originários dessas entidades criaram, no delta do Braden, perto de Saint Augustine, na Florida, um verdadeiro « palenque ». Impuseram a este terra de alforria, o nome de Angola.

António, homem livre, com o estatuto de serviçal, conseguira adquirir uma fazenda e colara, nela, o nome do pais dos Ngola.

Na Virgínia - esta Angola deslocalizada – o título genérico do Rei Federador -, foi atribuído no século XVIII, numa dinâmica antropo – hydronimica, no Condado de Cumberland, a uma ribeira. Hoje, encontra-se, aí, uma reserva natural com esta apelação.
 
THE ANGOLITE
 
O topónimo Angola e, também, certificado em diversas localidades tais como no Estado de Nova Iorque, em Buffalo, cidade fundada em 1873, perto da Lagoa Erie, e no Indiana, onde foi acoplado a uma cidade universitária.

A denominação Angola, a mais célebre nos Estados Unidos de América, e a que foi posta ao Penitenciário do Estado de Louisiana, criado em 1835, numa antiga quinta, conhecida, hoje, como « The Farm »  ; e cuja principal publicação tem como titulo « The Angolite » ( ?).
 
Na verdade, o nome Angola acabou para significar, nas colónias e nos outros territórios da América do norte, luta pela liberdade.
 
A grande utilidade da síntese de Vladmiro Fortuna e de ser uma tentativa, versão recapitulativa, em português  do « Captive Passage » entre o litoral da « Cote d’ Angole », o do Reino dos « Mbanza » e a América setentrional.
 
Naturalmente, ele reconhece o carácter sintético do seu trabalho, esperando que as pesquisas sobre o assunto evoluirá significativamente.  
 
Com efeito, esforços devem ser feitos no estudo das sobrevivências linguísticas e  antropológicas bantu nos Estados Unidos de América, sobre documentos de arquivos ou baseando-se nas praticas ou tradições actuais, nos passos de Lorenzo Dow Turner, Patricia Jones-Jackson ou Winifred Kellerberger Vass.
 
E só a este preço que a componente bantu do melting - pot melungeon, poderá ser bem esclarecida.
 
 
Simao SOUINDOULA
Comité Cientifico Internacional
Projecto UNESCO “A Rota do Escravo
C.P. 2313
Luanda (Angola)
Tel.: + 244 929 79 32 77

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