domingo, 11 de setembro de 2011


David Silva um açor-americano é um excelente profissional esteve presente no nosso colóquio em 2007 com um trabalho sobre fonética açoriana que podem ler em anexo. posteriormente JÁ TIVEMOS OUTROS INVESTIGADORES A USAREM ESTE MATERIAL NAS SUAS APRESENTAÇÕES NOS NOSSOS COLÓQUIOS, PASSE A PUBLICIDADE
Chrys C:
    

Prof. Dr. David J. Silva  e' natural de Massachusetts, U.S.A..  Os pais são de Sao Miguel, A,cores.
 
 
David J. Silva, Ph.D.
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2011 © David J. Silva
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David J. Silva
The University of Texas at Arlington

David Silva (The University of Texas at Arlington), nasceu em Somerville, Massachusetts em 1964. De pais açorianos, cresceu e educou-se num ambiente quase exclusivamente americano. O seu interesse pela língua dos seus pais veio à luz durante os seus estudos de licenciatura na Harvard University, onde recebeu um A.B. em linguística em 1986. Continuou os seus estudos linguísticos a nível de pós-graduação na  Cornell University, onde se dedicou e especializou em fonética e fonologia da língua coreana e doutorou-se em linguística em 1992. É director do departamento de “Linguistics and TESOL” na Universidade de Texas em Arlington (localizada entre Dallas e Fort Worth). Os seus estudos de investigação científica  têm sido publicados em várias revistas académicas, tais como Korean Linguistics, Korean Studies, Language Variation and Change e Phonology. Dedica-se à pesquisa fonética e sociolinguística coreana, mas de vez em quando, visita o seu interesse pelo dialecto do seu pai, o da ilha de São Miguel.

TRAÇOS FONÉTICOS SOBREVIVENTES NO FALAR MICAELENSE DE ALGUNS IMIGRANTES AÇORIANOS EM GREATER BOSTON

Sinopse
Entre os vários dialectos do português mundial, a variedade falada na ilha de São Miguel (Açores) exibe traços fonéticos que não se encontram noutras partes do mundo lusófono. As características mais emblemáticas deste dialecto são as vogais anteriores arredondadas [ü] e [ö], que correspondem a [u] e [oi/ou] (respectivamente) no Português padrão. Há também diferenças sistemáticas na pronúncia das vogais tónicas, que são reflexos de um “movimento em cadeia” (Martinet 1955): por exemplo, sete pronuncia-se como [sæt], avó como [avô] e avô como [avú]. Embora estas características micaelenses estejam bem atestadas no falar contemporâneo da ilha (viz. Silva 1986, 2006; Blayer 1992; Bernardo 2003), persistem na pronúncia dos emigrantes açorianos nos Estados Unidos? Essa pergunta merece a nossa atenção, se considerarmos as forças sociolinguísticas com que os micaelenses se deparam dentro da comunidade luso-americana, em relação aos falantes naturais de outras partes do mundo lusófono onde o sistema vocálico se conforma mais ao português «normal». Neste estudo, apresentamos uma análise fonética de quatro emigrantes da vila do Nordeste (agora residentes na região de Boston), os quais patenteiam sistemas vocálicos distintos. Alguns falantes conservam a maioria das características típicas da ilha, mas outros compreendem formas correspondentes à da língua padrão de Portugal. Nesta variabilidade interpessoal detecta-se uma tensão entre as acções articulatórias que são emblemáticas da identidade micaelense (como a [ü] em lugar da [u]) e as que manifestam uma resposta comprometida às forças linguísticas e sociais da norma padrão portuguesa.

1.    Introdução

Entre os vários dialectos do português, a variedade falada na ilha de São Miguel exibe traços fonéticos que não se encontram noutras partes do mundo lusófono. As características mais emblemáticas deste dialecto são, sem dúvida, as vogais anteriores arredondadas [ü] e [ö], acentuadas, que correspondem a u e oi/ou (respectivamente) no português padrão. A vogal micaelense [ö] aparece também no contexto de [o] seguida pela fricativa palatal j.

 (1)          u-escrita = [ü]                                                       oi-, ou-, oj-escritas = [ö]
[‘üvâ]                       uva                                         [öt]                           oito
[‘frütâ]                     fruta                                        [nöt]                        noite
[krüš]                      cruz                                        [pök]                       pouco
[â’zül]                      azul                                        [öž]                          hoje

Há também diferenças sistemáticas na pronúncia das vogais tónicas, que são reflexos de umas “modificações em cadeia” (Martinet 1955). Por exemplo, a palavra dedo pronuncia-se como [déd(u)], perna como [pærnă], avó como [avô], avô como [avú], etc.

(2)           Correspondência                            Pronúncia                     Pronúncia                     Forma
Fonética                                            padrão                           micaelense                  ortográfica
                PP [i]       ~ PM [i]                               [‘ditu]                              [dit]                                  dito
                PP [ej]    ~ PM [ê]                              [‘lejtĭ] ~ [‘lăjtĭ]                 [le:t]                                 leite
                PP [ê]     ~ PM [é]                              [‘dêdu]                            [déd]                               dedo
                PP [é]     ~ PM [æ]                            [‘pérnă]                          [‘pærnă]                         perna
PP [a]     ~ PM [α:]                             [‘patu]                             [pα:t]                               pato
PP [ó]     ~ PM [ô]                              [ă’vó]                               [ă’vô]                               avó
PP [o]     ~ PM [u]                              [ă’vô]                               [ă’vu]                               avô
PP [u]     ~ PM [ü]                              [‘tudu]                             [tüd]                                tudo

Estas características micaelenses estão bem atestadas no falar da ilha (viz. Rogers 1940, 1948; Silva 1986, 2005; Blayer 1992; Bernardo 2003). Com certeza, a investigação mais detalhada é aquela de Bernardo (2003), em que se encontram descrições acústicas refinadas, lugar por lugar por toda parte da ilha. (Os factos apresentados aqui nesta obra representam e foram mais ou menos generalizados para facilitar a exposição.) Foi Rogers que notou que estas correspondências vocálicas entre a língua padrão e o falar micaelense resultaram dumas modificações em cadeia (“chain shift”):

(3) As Modificações em Cadeia  (viz. Rogers 1940, 1948; Martinet 1952)

Text Box: i       ü      u
ei ê    ô
é  ó
     æ         a

Estas modificações, ao lado de vários processos de monotongação – eu > [e], pai > [pa:], chapéu > [šă’pé:], foi > [fö], e couve > [köv] – dão à pronúncia da ilha o seu perfil original na lusofonia.  No fim da sua obra sobre a fonética deste dialecto, Bernardo escreve o seguinte: “... a frequência e a sistematização de emprego das vogais [ü], [ö] e até mesmo [α], ainda que esta última seja evitada nos meios citadinos, não encontram paralelo no universo da Lusofonia, constituindo marcas indeléveis de um modo de falar muito típico da ilha de São Miguel “ (p. 115).

Embora estes traços fonéticos estejam atestados no falar contemporâneo da ilha, persistem na pronúncia dos emigrantes açorianos nos Estados Unidos? A pergunta merece a nossa atenção, se considerarmos as  forças sociolinguísticas com que os micaelenses se deparam dentro da comunidade luso-americana, em relação aos falantes naturais de outras partes do mundo lusófono onde o sistema vocálico se conforma mais ao português «normal». Vamos descobrir que alguns micaelenses que  se integram na comunidade lusófona deixam ao lado umas manifestações típicas do dialecto e, com efeito, adoptar uma pronúncia similar à língua padrão. Outros locutores, que participam na comunidade lusófona mas a um nível menos intenso, preservam os traços estereotípicos – a [ü], a [ö], e a [æ] (em lugar da é) – mas não manifestam todos resultados das modificações em cadeia. Finalmente, locutores que não têm ligações além da sub-comunidade micaelense preservam a maioria das características do dialecto; estes, que são uma minoria, manifestam um sistema bem tradicional e conservativo – e, pode-se dizer – estereotípico e estigmatizado.

2.    Vogais Orais Acentuadas na Língua Padrão

Antes de considerar os fatos do sistema vocálico micaelense (na ilha e na América), repassamos um pouco as características básicas do vocalismo da língua padrão. É bem conhecido que na língua padrão há sete vogais orais acentuadas: i, ê, é, a, ó, ô, e u.[1] Martins (1988) informa-nos que cada vogal ocupa uma área acústica distinta; os valores de frequência dos primeiro e segundo formantes não manifestam nenhuma parte sobreposta no espaço acústica.[2]

Figura No. 1: As vogais acentuadas do português padrão, 9 falantes (Martins 1988)

Duma perspectiva tipológica, este sistema não manifesta nada estranho; a maioria das línguas no mundo contém cinco ou sete vogais orais num sistema mais ou menos simétrico e paralelo, como se apresenta no português.

3.    Vogais Orais Acentuadas no Falar Micaelense

As observações auditivas de Rogers e Blayer sobre o vocalismo do falar micaelense foram confirmados pelas investigações acústicas. Por exemplo, Silva (2006) apresenta o seguinte para ilustrar as posições relativas das vogais orais acentuadas no falar duma mulher, Senhora T, residente da Vila do Nordeste. Os sinais grandes representam os valores médios de cada vogal; os pequenos representam as posições vocálicas na língua padrão. As flechas enfatizam os resultados das modificações em cadeia, um processo diacrónico.

Figura No. 2: O espaço vocálico da Sra. T, natural e residente do Nordeste.

No falar desta locutora, as vogais avançadas pronunciam-se mais abaixo (ê > [é] e é > [æ]); é assim mesma a posição da vogal baixa, a. As vogais médias, recuadas e arredondadas (ó e ô) estão situadas quase na mesma posição em que se localizam os correspondentes no português normal. A vogal i está um pouco avançada e a u fica bem longe da sua origem na faixa alta e recuada, mas é bem arredondada.
                Na Figura No. 3 vê-se o espaço vocálico doutra residente do Nordeste, Senhor F. Aqui encontra-se uma melhor evidência do movimento em (3), indicada pelas flechas.

Figura No. 3: O espaço vocálico da Sr.ª F, natural e residente do Nordeste.

É claro que os espaços vocálicos destes dois falantes não se conformam à situação que nos apresentou Rogers – o movimento “contra o sentido horário”. Mas como escreve Bernardo, “Colheram-se interessantes registos que dão testemunho da consciência, que os locutores demonstram ter, da existência de variação no português falado na ilha” (p. 113). Em breve, a variação fonética é normal. Mas a variação individual não deve obscurecer a presença de características emblemáticas do dialecto, que se patenteiam nas figuras acima.

4.    O Falar Micaelense na América

Então, quando os micaelenses deixam o seu lugar natal para emigrar aos Estados Unidos, que se passa com o desempenho fonético? Mantêm-se as características da ilha ou adoptam-se outras pronúncias? Depende da pessoa, com certeza, mas creio que há generalizações para notar.
Nesta apresentação, vamos considerar as produções orais de quatro falantes: uma mulher velhinha e os três filhos dela. A mãe (“MB”) tinha uns 70 anos; nasceu nos Estados Unidos, mas foi para o Nordeste quando tinha dois anos. Cresceu na vila do Nordeste, onde se casou com um homem natural da Ribeira Grande. Deu à luz três filhos em São Miguel entre 1943 e 1946. Em 1949, a família emigrou para os Estados Unidos e moram em Cambridge e Somerville. Em 1956, nasceu o último filho. Os três filhos que foram entrevistados são o mais velho (“L”), o segundo (“J”), e o mais jovem (“S”).
A recolha dos materiais que servem de base a este trabalho foi feita no verão de 1997, nos arredores da cidade de Boston, onde moram muitos imigrantes açorianos (em particular, nas cidades de Somerville e Cambridge). Apresentei a cada falante uma série de fotos de coisas comuns: um rádio, umas uvas, uma tesoura, uns sapatos, uma bola, etc. As entrevistas foram gravadas numa fita de audiocassete e depois convertidas a uma forma digital num computador portátil. Os ficheiros acústicos foram analisados com o programa “Praat” (da Universidad de Leiden), em que afirmei os valores de dois pontos críticos de cada vogal: o valor do primeiro formante (F1—a abertura) e o valor do segundo formante (F2—o recuo).

4.1. Espaço Vocálico de MB (mulher, ~75 anos). O espaço vocálico da mãe, MB, apresenta-se na Figura No. 4. Nesta figura vêem-se várias características típicas da ilha: a anteriorização da vogal alta u (até [ü]), a anteriorização do ditongo ortográfico ou (> [ö]), o movimento em cadeia das vogais anteriores para abaixo, e o abaixamento do vogal baixo a, mas sem recuo significativo. As vogais ó e ô ficam mais ou menos na região em que  se situam estes segmentos na língua padrão, sem movimento. Este espaço é parecido com o da Sra. T.
Figura No. 4: O espaço vocálico da Sra. MB.
Os pequenos sinais representam os valores dos vogais na língua padrão (de Martins 1988)

4.2. Espaço Vocálico de L (filho mais velho, ~55 anos). O espaço vocálico do Sr. L é diferente daquele da mãe. Na Figura No. 5 podemos ver as modificações em cadeia das vogais anteriores ê e é, mas não há movimento significativo da vogal baixa, a. Vemos também que o ditongo ortográfico ou apresenta-se como um monotongo centralizado (e não bem como o anterior), e que as duas vogais médias recuadas ô e ó ocupam quase o mesmo espaço, numa amalgamação dos dois (um “vowel merger”). Finalmente, e mais importante, a vogal ortográfica u fica na sua posição normal, na esquina alta e recuada. Não há [ü], uma das características mais fortes do dialecto.
Figura No. 5: O espaço vocálico de L.

4.3. Espaço Vocálico de J (filho segundo, 53 anos). O espaço vocálico de J é mais uma vez diferente. Na Figura No. 6, vemos que a vogal i se aproxima a ê, que fica (mais ou menos) no espaço normal. A vogal é fica bem longe da ê, numa posição bem perto da a, que é recuada. Enquanto as ô e ó ficam em posições normais, a u fica ao lado da i, e o ditongo ou manifesta-se como vogal central, mas mais anterior do que se apresenta no espaço de locutor L.

Figura No. 6: O espaço vocálico de J.

4.4. Espaço Vocálico de S (filho mais jovem, 42 anos). O espaço vocálico de S merece atenção especial porque representa melhor o padrão mais “típica” (ou, talvez, “estereotípica”) da ilha. Nem a i nem a ê participa na modificação em cadeia, mas as outras vogais, sim. A vogal é fica bem abaixo; a a está recuada; a ó e a ô estão levadas às posições de ô e u, respectivamente, e a u manifesta-se como [ü]. O ditongo ou é um monotongo central.
Figura No. 7: O espaço vocálico de S.

5.    Análise

Aqui apresentamos uma análise fonética de quatro emigrantes da vila do Nordeste (agora residentes na região de Boston), os quais patenteiam sistemas vocálicos distintos. Cada falante conserva algumas das características típicas da ilha, mas os padrões específicas são diferentes. Julgo que o Sr. L manifesta o sistema mais parecido com a língua padrão; vemos que as sete vogais principais ocupam áreas distintas e em posições relativamente parecidas com as do sistema padrão. A excepção é a posição relativa de ô e ó, que se aproximam. Há monotongação e anteriorização do ou, mas não há a [ü] característica dos micaelenses. Por outro lado, o espaço do filho mais jovem, P, é mais típico da ilha. Entre esses dois pontos e as extremidades ficam os sistemas da mãe e do filho J; esses casos representam uma acomodação do sistema insular ao sistema essencialmente padrão que predomina na comunidade luso-americana.

Como se explica essa diferenças entre os quatro falantes, que são membros da mesma família? Creio que é importante considerarmos factos sociológicos, incluindo as relações entre as comunidades e sub-comunidades linguísticas. É importante reconhecermos que na comunidade lusófona açoriana, o falar micaelense é individual e, desafortunadamente, estigmatizado por muitos. No contexto insular (que quer dizer aqui, na ilha), o estigma perde o seu poder na presença dos esforços da rede social (“social networking”) que apoia o uso regular e a avaliação positiva do dialecto local. Porém no contexto imigrante, quando os micaelenses chegam a viver lado a lado com lusofalantes de dialectos mais parecidos com a língua padrão, encontram pressões novas a conformam-se a pronúncia na direcção da língua padrão.

Consideramos a situação social do falante L. Vive principalmente na comunidade anglófona, mas têm entrelaços importantes na comunidade açoriana. O esforço linguístico mais forte na vida dele é, com certeza, a língua da esposa e a família dela, naturais da ilha do Faial, que moravam no mesmo edifício durante os primeiros cinco anos do casamento. Anos depois, a sogra morava com a família de L. Dia a dia, L encontrou o falar faialense, que é na maior parte fonologicamente equivalente à norma padrão portuguesa. Por outras palavras, L entrou numa relação de alta densidade (“high density relationship”, Milroy 1987) com a comunidade lusófona: as interacções com falantes de dialectos normais portugueses são quotidianas e relativamente significativas. Por isso, vemos que L modificou os seus padrões fonéticos.

Noutra extremidade encontramos S, que fala uma variedade típica. Mesmo que fale o dialecto micaelense como língua primeira, não tem ligações significativas na comunidade lusófona: está quase completamente integrado exclusivamente no mundo anglófono. O seu único contacto com a língua portuguesa vem das interacções com os pais, avós, e tios – todos naturais do São Miguel. (Com os irmãos e os primos fala inglês tão-só.) S entrou numa relação de baixa densidade com a comunidade lusófona: as interacções com falantes de outros dialectos portugueses são raras e relativamente insignificantes. Sem ligações regulares com lusofalantes (de qualquer dialecto), S nunca recebeu o “input” necessário para estabelecer nem a competência linguística nem as atitudes da comunidade mais larga.

Ao contrário, os falantes MB e J têm ligações na comunidade lusófona, as mais significativas daqueles são com outros micaelenses. Por isso, a pronúncia deles manifesta uma resposta comprometida às forças linguísticas e sociais da norma padrão portuguesa, sem deixar de lado os indicadores (o que William Labov chama “indicators”) principais do dialecto. Eles não entram em contacto com a língua padrão tão frequentemente quanto o locutor L. Portanto, por causa destas relações de média densidade, não padecem das mesmas pressões sociolinguísticas para abandonar esses indicadores fonéticos; no mesmo tempo, dão-se conta das diferenças entre o falar micaelense e a pronúncia padrão e, por consequência, modificam o comportamento linguístico até às normas da comunidade.


 









                     
 



           





            Figura No. 8: Esquema das relações sociolinguísticas entre os participantes.
                (“Esp” = “esposo/a”)

6.    Conclusão

Este trabalho apresentou uma descrição e análise das manifestações fonéticas de quatro membros da comunidade  micaelense na área de Boston. Como vimos, as pronúncias atestadas no falar contemporâneo da ilha persistem na pronúncia dos emigrantes açorianos nos Estados Unidos. Porém, esses locutores patenteiam sistemas vocálicos distintos. O falante menos ligado à comunidade lusófona conserva a maioria das características típicas da ilha, por não ter interacções de alta densidade com falantes de outras partes do mundo lusófono. Ao contrário, o locutor com ligações íntimas e diárias com falantes de dialectos não-micaelenses manifesta um espaço vocálico mais ou menos correspondente à da língua padrão de Portugal. A variabilidade interpessoal detecta-se numa tensão entre as acções articulatórias que são emblemáticas da identidade micaelense (como a [ü] em lugar da [u]) e as que manifestam uma resposta comprometida às forças linguísticas e sociais da norma padrão portuguesa.

David J. Silva, Department of Linguistics and TESOL, The University of Texas at Arlington, UTA Box 19559 – Hammond Hall 403, Arlington, TX  76019-0559   USA david@uta.edu  / http://ling.uta.edu/~david

7.    Obras Citadas

Bell, R. T. Sociolinguistics. London: B. T. Batsford, 1983.
Blayer, Irene Maria Ferreira. "Aspects of the Vocalic System in the Speech of the Azores Islands." Diss. U of Toronto, 1992.
Chambers, J. K. Sociolinguistic Theory. Oxford: Blackwell, 1995.
Gonçalves Vianna, Aniceto dos Reis. "Notas sobre a fonética dialectal de Ponta-Delgada." Revista Lusitana I (1887-89): 223-26.
Labov, William. Sociolinguistic Patterns. Philadelphia: U of Pennsylvania Press, 1972.
Leite de Vasconcellos, José. "Dialectos Acoreanos (contribuições para o estudo da Dialectologia Portuguesa." Revista Lusitana II (1890-92): 289-307.
Martinet, André. "Function, Structure, and Sound Change." 1952. Readings in Historical Phonology: Chapters in the Theory of Sound Change. Eds. Philip Baldi and Ronald N. Werth. University Park: Pennsylvania State UP, 1978. 121-59.
Martins, Maria Raquel Delgado. Ouvir Falar, 3a edição. Lisboa: Caminho, 1988.
Milroy, Lesley. Language and Social Networks, 2nd edition. Oxford: Basil Blackwell, 1987.
Rogers, Francis M. "The Production of the Madeira and Azores Dialects as Compared with Standard Portuguese." Diss. Harvard U., 1940.
 ---. "Insular Portuguese Pronunciation: Porto Santo and Eastern Azores." Hispanic Review XVI.1 (1948): 1-32.
Silva, David James. "New Perspectives on the Portuguese Vowel Shift." Undergraduate Thesis, Harvard U., 1986.
---. Vowel Shifting as a Marker of Social Identity in the Portuguese Dialect of Nordeste, São Miguel (Azores). Luso-Brazilian Review 42.1 (2005): 1-27.



[1] Não nos preocupamos com o estado da vogal â por ser marginalizada na fonologia das vogais tónicas na língua.
[2] Por convenção, nos quadros acústicos aparecem os valores de frequência do primeiro formante (F1) no eixo-y e a diferença entre os valores de frequência do segundo formante e o primeiro (F2-F1) no eixo-x. Estes valores representam a abertura e recuo das vogais (respectivamente) na boca do falante.

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